“… Naquela mesma noite escrevi minha primeira história (…) era um pequeno conto meio soturno sobre um homem que encontra um cálice mágico e fica sabendo que, se chorar dentro dele, suas lágrimas vão se transformar em pérolas.
Mas, embora tenha sido sempre muito pobre, ele era feliz e raramente chorava. Tratou então de encontrar meios de ficar triste para que as sua lágrimas pudessem fazer dele um homem rico. Quanto mais acumulava pérolas, mais ambicioso ficava.
A história terminava com o homem sentado em uma montanha de pérolas, segurando uma faca na mão, chorando inconsolável dentro do cálice e tendo nos braços o cadáver da esposa que tanto amava…”
Khaled Hosseine – O caçador de pipas
Tive uma percepção triste neste conto. Um alerta e não uma crítica.
A essência, o cerne da estória é: conquistar e acumular valores materiais, a qualquer preço, a qualquer custo, mesmo que se perca aquilo que mais importa.
Pareceu-me muito familiar e muito contemporâneo...
Não consigo deixar de ver na estória acima alguns de meus primeiros mestres na fé, muitos dos heróis da minha então nova espiritualidade.
Gente que eu acordava cedo para assistir, ouvir e aprender na TV aos sábados e domingos pela manhã, no começo dos anos 90. Homens e mulheres que andavam humildemente com seu Deus e eram, para nós os pequeninos sedentos de Deus, o modelo e exemplo a ser seguido de relacionamento, fidelidade, dignidade e felicidade espiritual.
Gente que eu acordava cedo para assistir, ouvir e aprender na TV aos sábados e domingos pela manhã, no começo dos anos 90. Homens e mulheres que andavam humildemente com seu Deus e eram, para nós os pequeninos sedentos de Deus, o modelo e exemplo a ser seguido de relacionamento, fidelidade, dignidade e felicidade espiritual.
Mas em algum momento perceberam que as lágrimas, que desgraças, que infortúnios da vida, tinham um “valor” e, estes mesmos homens e mulheres, aqueles então servos de Deus, pouco se importando hoje que todos, cristãos ou não, testemunhem que eles, com o cadáver do Cristianismo nos braços, transformam o choro dos necessitados em vantagem própria com um único propósito, com um único objetivo , o de satisfazerem suas ambições pessoais.
Não consigo deixar de ver na estória algumas igrejas e alguns “ministérios” (eu disse alguns) criados com o único propósito de encher o cálice com pérolas e não com vinho. Os que criaram tais ministérios entendem a igreja como o “cálice mágico” e que as lágrimas dos desesperados são pérolas em potencial. Tenho a sensação de ver o Corpo de Cristo morto em seus braços, nos braços das igrejas vendedoras de prosperidade enquanto seguram suas salvas e seus gasofilácios transbordantes.
Não consigo deixar de ver na estória também multidões que buscam a Deus com o único propósito de acumular riquezas terrenas, saciar suas ambições, conquistar o que “lhes pertence”. E que nunca crescem, nunca percebem que o valor real está no Amado. Pensam buscar a Deus, mas estão a buscar o cálice e com ele apenas já estão satisfeitos.
Dizem buscar e amar a Deus, desejam na verdade pérolas.
E tantos outros paralelos...
Pergunto:
Estaremos livres de mesmo destino?
Será que esperamos apenas encontrar um “cálice mágico” adequado?
Será que almejamos as pérolas em vez do Reino?
Cabe a nós cuidarmos fazer a escolha correta: a simplicidade com Nosso Amado ou a riqueza, glória e poder com seu Cadáver nos braços.
Jesus também nos oferece pérolas mas destas os porcos não se agradam.
Forte, profundo e, infelizmente, verdadeiro... Boa, pastor!!
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