quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O homem que tranformava


José era um jovem amado por seu pai e amado por seu Deus, ambos lhe davam atenção especial, um pouco, só um pouco a mais que a atenção que recebiam seus outros irmãos. Ocupava um lugar confortável dentro de sua família, era o primogênito de sua mãe, a esposa mais amada por seu pai, além disso, e principalmente, era o escolhido para ser canal de Deus, para se comunicar com os outros membros do clã. Isso tudo garantiria para José uma vida de sucesso e prosperidade, um futuro feliz e pacífico.
Além disso havia uma garantia divina, uma promessa, o próprio Deus havia mostrado em sonhos que ele seria um líder, o cabeça, o homem a ser reverenciado na casa.

E um dia dormiu sendo este alguém com um futuro muito especial...


Só que acordou no outro dia preso, em uma jaula de carroça, nu, traído e vendido pelos seus irmãos, sendo transportado para ser mercado como escravo numa terra que ele não conhecia, entre gente que ele não conhecia, com cultura e língua que ele não conhecia.
Agora estava sem família, sem seu pai e todo seu carinho, sem seu amor, sem roupas, sem posses, sem terra natal, sem cultura, sem língua, sem futuro brilhante, sem futuro de sucesso, sem futuro, sem prosperidade. José ficou sem nada. Tudo que lhe restara foi uma promessa de seu Deus.

Ele foi levado até o Egito e exposto em uma feira de escravos, comprado e enviado para a casa de Potifar, oficial capitão da guarda real de Faraó, rei de todo o Egito. José agora era um escravo, a menor posição social que existia naquela sociedade, e ainda um escravo novato, ou seja, o menor entre os menores. Como seria sua cama se é que havia uma? Qual a sua porção do alimento? E suas vestimentas? Definitivamente não era nada parecido com o futuro que ele esperara.

Então, depois de tudo isto, de tanta calamidade, de tanto infortúnio, no fim do dia, José sentou em seu cantinho, examinou sua situação e chorou a amargura da vida... Não. Chorou a injustiça da existência e o Deus que promete e não cumpre?... Não! José simplesmente não ficou se lamentando. José não ficou paralisado lembrando-se de sua situação passada e de como era feliz, não ficou preso ao seu passado. José definitivamente não ficou deprimido e desgostoso de viver.

José simplesmente se levantou na manhã seguinte e foi transformar...

Ele provavelmente recebeu a pior tarefa da casa, a que ninguém queria fazer. Aquela que um novato esperava outro novato chegar para se livrar dela, talvez uma tarefa de limpeza bem desagradável, o serviço que ninguém quer nem verificar se foi bem feito para evitar o desgosto. Mas José fez com dedicação e zelo. Fez como se estivesse fazendo para si mesmo, como se fora seu, mesmo que era de outro, mesmo que para outrem. Fez como se aquilo fosse a coisa mais importante a ser feita na casa, e na verdade era, era o local que José estava e o que lhe viera a mão fazer. E este cuidado foi percebido, não que ele fizesse para ser visto, esta era na verdade sua essência, isto estava em seu ser. Esta era a postura de José perante a vida, de transformar o lugar em que estava e tudo que estava a sua volta em algo melhor. Acharam um desperdício deixá-lo ali naquele trabalho desimportante, ele poderia fazer algo melhor, algo mais especial, ele poderia limpar e transformar em outra parte, fazer algo mais necessário. Em pouco tempo ele já cuidava da limpeza de toda a casa.

José não precisou minar a reputação de ninguém, não sabotou ninguém, não agiu com traição, não precisou fazer fofoca nem caluniar. José subia por sua dedicação a aquilo que fazia. José era tão correto e sincero nesta dedicação que seus superiores não se sentiam ameaçados. Passado mais algum tempo ele também começou a administrar a cozinha, em seguida os suprimentos, a casa precisava ser melhor municiada, e logo, ele era o governante, ninguém havia superior a ele naquela casa a não ser aquele que não podia ser substituído, o próprio Potifar.

Agora José tinha construído um ambiente de segurança, novamente era querido, novamente respeitado e gozava de preeminência entre seus pares, quase podia esquecer que era um escravo.

Foi dormir bem tranqüilo...

E novamente ele acordou sem nada. Sem justiça, sem voto de confiança, sem história ou lembrança e agora em um lugar muito pior, fétido, imundo, úmido e escuro. Sem cozinha, sem banheiro, sem a menor condição. Disputando com ratos seu alimento, se é que aquilo que serviam poderia ser chamado alimento. E ele percebeu que poderia ser bem pior do que já fora um dia, ele desejou estar na carroça de escravos novamente. E agora finalmente o mundo de José caiu e ele sentou e chorou... não!

José simplesmente se levantou na manhã seguinte e foi transformar...

Arrumou a cela e também o corredor. Não satisfeito arrumou as celas ao lado da sua, e as outras, e as outras e as outras... e em pouco tempo ele era o encarregado do lugar, era querido por seus companheiros de cárcere pois conseguiu melhorar a situação de todos ali. Tinha tanto a confiança dos administradores do cárcere que possuía liberdade dentro do aprisionamento e podia recepcionar os presos que chegavam...

E foi dormir e quando acordou... Mas esta já é outra história.

Sabe o que mais impressiona na vida de José do Egito? Por mais que sua situação fosse péssima, que ele fosse lançado em lugares abomináveis, ele sempre transformava o local onde estava. Não, José não ficava se lamentando, reclamando de sua sorte e vida, ou murmurando contra Deus e a injustiça da existência. Não, José não ficava inerte. José transformava a situação. Quanto mais a circunstância parecesse horrível, por pior que fosse realmente, o sucesso de José consistia no fato de que ele não se conformava, tomava a forma, da situação.

Ele aceitava sim aquela condição como algo real e presente naquele momento, tomando assim consciência da realidade, então encarava a dificuldade de frente e partia para transformá-la fazendo o seu melhor, com toda determinação e força até que ele gerasse saúde, sanidade, santidade e o que mais fosse necessário para o ambiente em que estava envolvido.

Não ficava pensando que o local onde ele estava não pertencia a ele, que em alguns anos ele não mais estaria lá, nem que a condição não era culpa ou problema dele, não desejava o pior para aqueles que dominavam sobre ele, não tratava com desleixo e relaxo as coisas que não lhe pertenciam. Ele cuidava de tudo como se cuidasse do que era dele, cuidava como se cuidasse do que fosse para ele. Também não ficava pensando no que ele merecia, que mereceria algo melhor. Não, ele transformava a situação para melhor. Se agora era um escravo e não mais o filho amado, ele será o melhor escravo a partir de agora. Se a cela era seu momento, sua cela seria a melhor cela da prisão, a mais limpa, a mais organizada.

Ele determinou que transformaria cada relacionamento, cada situação, cada lugar que estivesse. Ele transformava, para melhor, tudo e todos que tocava.

Será que nosso atual lamento não é porque estamos conformados com ele?
Será que não podemos determinar e agir para transformar o que esta ao nosso redor?

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